DELEGAR, VERBO BITRANSITIVO!

Praticamente, todo gerente é acusado de não delegar, isto é, de ser centralizador, controlador, de reter conhecimentos e decisões que deveria compartilhar. Com efeito, delegar deveria ser uma das atribuições mais essenciais de um gerente. Pois, o que é um gerente? A melhor e mais precisa definição que conheço diz que um gerente é uma pessoa necessária à organização, para obter resultados de outras pessoas. Para tanto, precisa ser capaz de sistematizar os processos, transformá-los em rotinas planejadas, executáveis por um ou mais executante. A habilidade de delegar, portanto, seria essencial e inerente à função gerencial. Seria, então, justa a acusação, mas há um paradoxo aí! A pergunta é inevitável: por que não delegamos? Porque quase ninguém delega?

1. ( ) Porque somos centralizadores

2. ( ) Temos medo de perder prestígio

3. ( ) Temos medo de que tomem nosso lugar

4. ( ) Ser “dono do conhecimento” garante o emprego

5. ( ) Nosso chefe não quer que a gente delegue

6. ( ) Nenhuma das alternativas

O que acontece é que o verbo delegar é bitransitivo: implica em transferir alguma coisa para alguém. Tudo fica muito claro quando vamos da retórica para a prática. A mais simples tentativa de delegar se apresenta ao gerente como uma tarefa quase impossível. Será necessário fazer um plano de delegação, com descrições detalhadas das tarefas, com os planos de apresentação com a escolha de uma ou mais pessoas que devem ter as condições e o conhecimento relacionados ao que lhes será transmitido. Não será fácil nem mesmo encontrar as pessoas que queiram responsabilizar-se pelas tarefas que não fazem parte de suas funções! Aí então, fica clara e cristalina a maior dificuldade: não temos tempo para isso! Não temos o plano, nem o tempo para elaborá-lo, nem as pessoas a quem transmitir. Quem nos cobra de delegar não nos dá os recursos necessários para essa complexa atividade. A cobrança talvez tenha intenções inconscientes. Se não o fazemos, ficamos em dívida com a organização e, como endividados, perdemos o direito de ter uma vida particular e outorgamos à empresa que, a qualquer problema, nos contate em casa, nas horas de descanso, nos feriados, no meio da noite, em nosso fim de semana, em nossas férias. Quem não delega, perde o direito a essas coisas! O chefe não tem consciência do estrago que faz na equipe, ao tornar normal ligar para as pessoas nas horas de descanso. As pessoas ficam sobrecarregadas e perdem a criatividade. E acabam por transferir essa tirania para todos os membros da equipe, assim desalinhando a organização com seu propósito. O que fazer então, se o seu chefe te acusar de centralizador e argumentar que não tem como você desligar o celular para sair de férias. Algumas alternativas de resposta: 1. Use a estrutura da linguagem. Pergunte: Delegar o que? Para quem? Que tempo você me dá para fazer o plano de delegação? Seria possível contratar ou disponibilizar alguém para acompanhar os meus processos e, eventualmente, ficar em meu lugar? Isso dará consciência ao chefe do aspecto bitransitivo do verbo delegar e do processo relacionado a isso. O abstrato se transformará em realidade concreta! 2. Desligue o computador e o androide. Aja como o esquecido. Quando você voltar, esse será o seu argumento: “Que bom que vocês resolveram tudo sem mim”! 3. Tire um tempo por dia para elaborar um plano de delegação, com a descrição das tarefas mais importantes, principalmente as que te impedem de ter folga e de viajar de férias. Treine algumas pessoas nessas tarefas. Faça isso secretamente. Deixe sempre uma dessas pessoas em seu lugar nas folgas e nas férias. Mas atenção! Saiba que sua empresa e seu chefe não querem que você faça isso. 4. Use toda a sua criatividade para descobrir outras soluções.

Mauricio Tocafundo - IBRAPNL - 31 33721308 31 987116942