ALIENAÇÃO PARENTAL

A mãe e a avó de uma criança que ainda não tinha completado dez anos procuraram orientação para seu grave problema de comportamento. Na coleta de informações o pai não foi mencionado e quando perguntamos por ele tivemos uma estranha resposta: ele, simplesmente, não existia. A mãe só o conheceu numa relação sexual de carnaval. Nunca o tinha visto antes, nunca o viu depois e nada sabia a respeito dele! Deixou claro que a relação foi desejada, consentida e prazerosa.

Para a criança, entretanto, construíram uma imagem muito negativa desse pai fantasma. Na coleta de informações construímos a hipótese de que essa imagem negativa de pai, construída pela mãe e pela avó, seria a causa do sofrimento e do mau comportamento da criança.

Para verificar a hipótese, construímos junto à mãe e à avó, uma sequência coerente de histórias contadas à criança para a construção de uma representação positiva de pai para a criança. Esse procedimento produziu na criança, na mãe e na avó uma boa vontade para com o pai, em função da poderosa mudança de representação do pai. Ao longo de uns seis meses o comportamento negativo da criança desapareceu. Um seguimento de dois anos mostrou que a mudança positiva foi mantida. Tivemos a feliz notícia de quando a criança passou no vestibular!

A alienação parental é qualquer desqualificação do pai pela mãe ou da mãe pelo pai. A história acima mostra que a influência nefasta ocorre no modo como os filhos representam negativamente o pai alienado. É valioso observar que a representação negativa ocorre não apenas em relação ao pai desqualificado, mas também em relação ao pai que desqualifica. O prejuízo mais importante incide sobre a criança. A alienação tem algumas características importantes:

1. O pai alienado e a mãe alienadora estão representados como duas pessoas desunidas, divididas na representação do filho.

2. O processo de alienação empobrece a referência do pai alienado, mas também na mesma medida a da mãe alienadora. O desqualificador também se desqualifica.

3. O filho de pai alienado tende a buscar referências fora de casa. Ter qualquer referência é melhor do que não ter nenhuma. Qualquer referência é melhor do que a de pais alienados.

MAURICIO DE SOUZA LIMA TOCAFUNDO