DESENTENDIMENTO PESSOAL OU FALHA DE COMUNICAÇÃO?

Brigas de casal e família nem sempre ocorrem por questões objetivas. Considerações importantes a respeito disso podem ser feitas para facilitar relações nesse momento de isolamento social. A comunicação tem muitas armadilhas. A mais importante delas reside no fato de que comunicamos ao mesmo tempo por nossos processos conscientes e por processos inconscientes, sendo que ambos têm funções muito diferentes. Em resumo, a mente consciente fala a respeito da realidade objetiva, enquanto a mente inconsciente comunica sobre as nossas relações! Então, o significado reporta aos nossos objetivos, enquanto gestos, posturas, tom de voz, expressões faciais, entre outras coisas, se referem a relações e a quem somos nós um para o outro!

Assim, se alguém está irritado pelo isolamento e vai conversar com a pessoa amada sobre qualquer assunto, fatalmente terá um tom irritado na voz, e a irritação será mostrada nos gestos e outras expressões... Em nível profundo, a pessoa amada e até outras pessoas presentes tenderão a perceber a comunicação irritada como se fosse a respeito delas! Não é improvável que, nesse clima irritado, surjam brigas que, por sinal, nada terão a ver com o assunto verbalmente comunicado no começo.

Certos elementos de linguagem também são diferentes para os nossos dois níveis de mente. Para a mente inconsciente, a linguagem verbal é um conjunto de sinais artificiais aos quais foram aleatoriamente atribuídos significados em relação à realidade objetiva. O inconsciente tende a tomar essas coisas literalmente e a entender a comunicação como se fosse a respeito da relação. Não compreende certos artifícios, como aspas, a palavra “não” e tudo se passa com se esses artifícios não existissem! Então, quando a mãe conta a história, dizendo: aí mamãe ursa disse para o ursinho: “levante-se daí e vá escovar os seus dentes agora!” Talvez a criança se levante e vá escovar os dentes, ou se imagine fazendo isso! Também o “Não faça isso” comunica um “Faça isso!” A mente inconsciente não compreende as aspas nem o não e tende a agir como se esses artifícios não existissem.

Por exemplo, a esposa disse ao marido, em tom muito irritado: “Você ouviu o discurso de governador? O cara fechou a fronteira do estado, impedindo até os ônibus...” O marido, respondendo com irritação ao tom irritado da esposa: “E o que é que eu tenho a ver com isso?” Uma intensa troca de ofensas se seguiu a isso, a ponto de incomodar os vizinhos!

Como evitar? Alguém pode pensar que é possível controlar tom de voz, gestos e expressões. Costuma não dar certo. Administrar ou escolher o estado interno em que queremos comunicar pode ser um pouco mais fácil, mas, em geral, quando tomamos consciência já é tarde. Um truque que funciona mais vezes é a contextualização. Consiste em enquadrar o que se vai dizer, junto com o estado interno em que estamos. Exemplo: “não sei se você viu aquele vídeo do Amezuê Mor. Estou profundamente irritada com ele! Sabe o que o cara fez? Não bastou trancar a gente em casa: fechou a fronteira do estado!” A possibilidade de gerar problemas fica muito reduzida, uma vez que fica bem claro qual é o assunto e a respeito de que é a irritação.

Quanto ao uso das aspas, melhor não. Então, melhor não dizer:

- Aí eu disse para fulana ao telefone: “Você é uma chata!” Diga: Ao telefone, eu disse para fulana que ela é muito chata.

Tente dizer para a criança “Faça aquilo”, ao invés de “Não faça isso!”, para diminuir muito a chance de seu interlocutor fazer o que você não quer!

Não situação de isolamento, essas coisas podem ficar muito críticas. Geralmente, o defeito não está nas pessoas, mas na comunicação. Maurício Tocafundo, Trainer e Psicólogo. mauricio@ibranl.com.br 31 33721308. IBRAPNL Belo Horizonte.

Equipe IbraPNLComentário